Não se trata de pessoas que não tem lembranças ou que esquecem fatos de suas vidas...
São pessoas que foram esquecidas por seus familiares bem próximos, internadas em asilos, como se estivessem sepultadas vivas.
Quase não se fala nelas, possuem direitos, mas não conseguem fazer uso, pois, ali onde se encontram recebem tratamento, alimento, agasalho e até mesmo atenção dos enfermeiros e atendentes, entretanto, aqueles que um dia foram cuidados por ela com carinho sequer se lembram de sua existência, descarregaram o fardo que consideram pesado e os abandonam à própria sorte, com a consciência aliviada, afinal estão pagando para cuidar deles...
Nesses locais existem homens e mulheres que um dia trabalharam muito para dar conforto, educação, alimento, agasalho moral e físico para esses mesmos seres que agora preferem os manter distantes de seus lares, muitas vezes obtido com o resultado da venda de bens que esses “velhos” um dia adquiriram.
Não os colocam em qualquer lugar, pagam asilos que mantem equipes de atendimento vinte e quatro horas e suas consciências ficam tranquilas, mas a realidade é que os sepultam vivos, e não se sentem obrigados a visitar, muitos até os esquecem de fato.
Então, quando pessoas de igrejas e entidades sociais visitam esses locais, são recebidos pela maioria desses idosos com muita alegria, alguns até perguntam se a visita é específica para ele, para tentarem amenizar a dor do abandono daqueles familiares a quem deram de tudo e que agora negam até mesmo sua presença física por poucas horas para uma boa conversa, para rememorar os tempos que faziam parte de uma mesma família.
Ouvimos de algumas pessoas “ficam aí reclamando de abandono, mas não sabemos se foram boas mães ou pais”, como se isso fosse desculpa para estarem agora abandonados.
Se os filhos cresceram, estudaram e até criaram suas próprias famílias, certamente tiveram pessoas que os auxiliaram nessa caminhada desde que vieram ao mundo.
Seus pais tiveram responsabilidade desde que ainda bebês chegaram ao mundo e os criaram envolvidos em muito amor, ensinaram os primeiros os, alimentaram, deram educação e permitiram que evoluíssem, sem nunca os abandonar.
Então, preparados para enfrentar a vida, sempre protegidos e ainda sob o teto dos pais, tiveram condições de organizar a própria existência, se divertiram, namoraram e criaram suas famílias e, nelas, quando os pais envelheceram, que é o natural da caminhada nesta vida, não houve espaço para acolhimento e os motivos são inúmeros, desde dificuldade de espaço, de desentendimento com seus parceiros e principalmente falta de tempo para dar atenção, esquecendo que quando eram crianças nenhum desses argumentos foram usados para os excluir.
Assim, escorados por argumentos que consideram fortes, buscam asilos, abrigos de idosos, onde na maioria das vezes pagam para os manter acolhidos e, se possível só receberem a notícia do falecimento, que será motivo de alívio, pois, diminuirá a despesa e até mesmo a obrigação social de dar satisfação sobre a situação desses seres.
Esses seres que deram sua vida, sua energia, seu trabalho, entregaram todo seu amor, agora se tornam um peso e ali vivem seus últimos tempos olhando para a porta de entrada desses asilos numa expectativa infinita de que um dia ali irá surgir a figura de um filho amado que o virá visitar e, até mesmo, quem sabe o levar para viver em sua companhia.