Na última semana estive na Escola Estadual Comandante Jacques Cousteau na Cidade Miguel Badra em Suzano para apresentar e discutir os resultados parciais de um projeto de extensão chamado "Agricultura Urbana e Periurbana e Compostagem: uma possibilidade circular de combate ao desperdício".
O resultado parcial diz respeito ao potencial do bairro para a agricultura urbana. Em novembro do ano ado, eu e duas alunas de graduação em engenharia ambiental, depois de explicarmos o projeto e convidarmos alunos e professores voluntários da Escola Jacques Cousteau para andarmos pelo bairro, mapeamos em um raio de aproximadamente um quilômetro da referida escola 65 terrenos baldios abertos (sem muros e portões) e fechados, tanto com características públicas quanto com características privadas (particulares).
Esses terrenos, em seguida, foram devidamente georreferenciados.
Assim, em posse de um mapa do bairro com os terrenos identificados (georreferenciados) e fotografados, combinamos uma reunião para apresentar esses resultados.
Participaram da reunião, neste mês de maio, representantes formais da escola, três professoras e 25 alunos do segundo ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Os alunos, perspicazes e muito atentos, não paravam de se manifestar. Dentre as muitas considerações que fizeram, destaco:
1. Um aluno que começou a falar da sua relação com a escola, dizendo que naquela escola estudaram seus pais, primos, amigos dos pais e vizinhos e que ele conhecia os terrenos fotografados. Dele aprendi que aquela escola se constituía em uma comunidade que pode construir muito conhecimento a partir das histórias do próprio bairro e de seus moradores;
2. Vários alunos que reconheceram os terrenos baldios vizinhos de suas casas ou que estavam em seus trajetos para a Escola e começaram a relatar suas experiências. Tinha de tudo nos relatos, desde bolas que caíam nos terrenos e pés cortados em caco de vidro, até o mau cheiro, os ratos, os bichos mortos, o descarte de material de construção;
3. Outros tantos alunos que relataram experiências pessoais com parentes e amigos que praticam a compostagem e que plantam árvores e fazem hortas e reconheciam nos terrenos baldios um desperdício de oportunidades. Sabiam um bocado de nomes de plantas e árvores: pé de laranja, abacateiro, babosa, espada de São Jorge, pé de limão, goiabeira, dentre outras. Sabiam também a época do ano da frutificação. Foram muitas as histórias. Um espetáculo!
Finalmente, perguntamos aos alunos o que fazer? E os alunos começaram a construir uma agenda de ação: fazer uma oficina de compostagem para conhecer os modelos e as possibilidade do uso de composteiras; fazer oficinas para a produção de mudas de árvores e ervas (terapêuticas); e limpar os terrenos baldios para aproveitá-los de forma mais adequada.
Este último item está fora da nossa alçada, mas faço votos para que as autoridades públicas sejam sensíveis. Que olhem para o território.
Que abandonem a ideia de transformar a várzea do Tietê, vizinha do bairro, em aterro de material inerte.
Que percebam que os terrenos baldios identificados são desperdício de recurso do território e busquem garantir-lhes melhor destino na forma de hortas, pomares, quadras de areia, espaços para brincadeiras de rua, jardins contemplativos, dentre outros.
Quanto à comunidade local, quero agradecer a acolhida, o desenvolvimento do projeto e a tarde de ensino e aprendizagem.