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Jornal Diário de Suzano - 14/06/2025
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Coluna

Política do cuidado

22 maio 2025 - 05h00


Desde a pandemia da COVID-19 tenho prestado atenção em organizações primárias como famílias e também nas relações de vizinhança e observado que, no período específico da pandemia, as horas usadas por familiares e vizinhos com "cuidados" ou com o trabalho de cuidar aumentaram muito. 
Era cuidado com a limpeza da casa, com a higienização de embalagens, com o fazer comida, com as plantas e animais domésticos, com os membros da família que precisavam trabalhar e quando voltavam do trabalho ficavam distantes dos outros membros da família com alguma comorbidade ou idosos, e finalmente com os familiares doentes e sequelados.
Curiosamente no mesmo período da COVID-19, os governantes de plantão no Brasil praticaram o descaso, o "descuido" e intensificaram o desmazelo, o fazer de qualquer jeito, ou seja, praticaram o contrário do cuidado.
É fato que todos nós gostamos e necessitamos de cuidados e de bons tratos na vida. No Brasil são as mulheres que assumem a maior parte dessa responsabilidade de "cuidar" seja da casa, dos animais domésticos, das crianças, dos idosos, dos enfermos e acamados, das pessoas em geral, na maior parte das vezes como trabalho cotidiano e gratuito.
Acredito que todos nós tenhamos histórias para contar sobre isso. Exemplos na família e entre amigos. Eu lembro de uma professora que dedicou longos anos de sua vida ao magistério. 
Depois, solteira, cuidou da mãe e mais tarde do pai, até ambos morrerem. Em seguida, ou a cuidar de irmãos, cunhados, tios, sobrinhos. Toda convalescência e arranjo "logístico" familiar a, ainda hoje, por ela.
É chegado o momento de nos inspirarmos nesses exemplos das organizações primárias, das famílias, dos indivíduos, das relações de vizinhança e valorizarmos o cuidar:
1. Da cidade. Adotarmos práticas do cuidado para com a cidade, zelando pelas políticas de mobilidade, pelo paisagismo, pela boa arborização da cidade. 
Abandonar o desmazelo, o "puxadinho mal feito", a política realizada simplesmente para dizer que foi feita, mesmo que pela metade, sem zelo e sem cuidado;
2. Das pessoas. Criarmos como sociedade, como comunidade, e fundamentalmente como política pública, um sistema de proteção social e cuidado que articule serviços e benefícios vinculados à assistência social, saúde, segurança alimentar, educação, relações de trabalho e promoção do trabalho decente, políticas de emprego para proteger as pessoas e valorizar o "cuidador", garantindo-lhe tempo de trabalho remunerado e apoio aos serviços de cuidado.
Resumindo: é preciso abandonar o descaso, o descuido, o desmazelo na forma de se fazer política pública e "cuidar" da cidade, tornando-a mais humanizada. 
No âmbito das políticas sociais, é chegado o momento de experimentar a prática do "cuidado" com os indivíduos, com os seres humanos, integrando serviços e benefícios, oxalá, instituindo um "bolsa cuidado" para que as famílias recebam recursos públicos para dedicar seu tempo ao cuidado de seus entes queridos.