Acompanhei notícias sobre o Papa Francisco desde que foi escolhido Papa. Francisco foi seguidor de uma tradição de Papas reformistas, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, e ao mesmo tempo foi o primeiro, o precursor, em vários aspectos: primeiro Papa latino-americano, primeiro Papa jesuíta, primeiro Papa a escolher o nome de Francisco. Suas primeiras viagens como Papa foram para o Oriente.
Lembravam-me as viagens de São Francisco Xavier, fundador de sua Ordem junto a Santo Inácio de Loyola. Logo em seguida, mostrou-se preocupado com a questão ambiental. Essa preocupação ambiental foi expressa na Carta Encíclica "Laudato Si", alusão direta ao canto de São Francisco de Assis: "Laudato si mi´Sgnore" (Louvado seja meu Senhor). Mais recentemente escreve outra Carta Encíclica: Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social.
A alusão a Francisco de Assis marca o pontificado de Francisco, o Papa ecologista, o Papa fraterno, o Papa misericordioso para com todas as criaturas.
Papa Francisco foi um líder católico que procurou reformar a Igreja Católica, apurar denúncias, crimes, abusos e acolher a todos os filhos de Deus; foi um Papa ecologista que, amparado pela Fé e pela Ciência, jogou luz sobre a questão ambiental, sobre as mudanças climáticas, sobre o desperdício de recursos naturais; denunciou o consumismo, e o egoísmo; e conclamou o povo a cuidar melhor da Terra, a Casa Comum.
Papa Francisco foi um líder político que denunciou e se preocupou com as injustiças sociais, a segregação dos imigrantes, as muitas guerras que pipocam pelo mundo, dentre as quais a guerra da Ucrânia e mais recentemente a matança na Palestina.
A Páscoa de Francisco, seu retorno à casa do Pai, foi precedida por um período de sofrimento, e em seguida por uma sobrevida que lhe permitiu visitar presos e saudar a multidão na Praça de São Pedro no Vaticano. Apesar de sua fragilidade física seu carisma estava intacto.
Além de tudo que se diz e se testemunha sobre Francisco, o líder, o reformista, o misericordioso, Francisco também gostava de futebol, fazia piada e se aproximava do povo. Lembrava, de algum modo, João XXIII, outro Papa reformista.
A filósofa Hannah Arendt ao tratar do Papa João XXIII em seu livro "Homens em tempos sombrios" disse que "desde o início de seu pontificado no outono de 1958, todo o mundo, e não apenas os católicos, ou a observá-lo" dentre outros motivos, por "efetivar certas ideias que eram perfeitamente simples, mas com efeitos de longo alcance e plenas de responsabilidade para o futuro". Assim também o foi Francisco.
Que os ensinamentos do Papa Francisco, despojado, enterrado sob uma lápide em que se inscreve apenas "Franciscus" nos inspire com sua inteligência, sua simplicidade e sua misericórdia.