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Jornal Diário de Suzano - 14/06/2025
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Coluna

O assassinato das árvores em ambiente urbano

10 abril 2025 - 05h00

Em 1973, o agrônomo e ecologista José Lutzenberger escreveu um texto chamado "a absurda poda anual" na qual afirmava que "em princípio, árvore alguma necessita de poda. Se necessitasse, todos os bosques naturais se acabariam sozinhos. Quanto mais livremente uma árvore consegue desenvolver-se, mais bela e sã ela será". Conclui-se então que a poda serve antes de mais nada para adaptação da árvore ao meio urbano ou para satisfazer os caprichos humanos. Não são chuvas e ventanias que derrubam as árvores. Elas dão uma "forcinha". A poda e o plantio mal feitos são as principais causas de queda de árvores nas cidades. As copas e raízes precisam de espaço, não podem ficar comprimidas por fios e tubulações subterrâneos, asfalto e cimento. A urbanização desenfreada, o zigue-zague de fios dependurados nos postes, o subsolo com tubulações de esgoto, telefonia, gás e outros interferem no crescimento sadio das árvores. A poda mal feita também mexe com a saúde das árvores. Há ecologistas como Lutzenberger que apontam a poda como absurda. Há biólogos que defendem a poda com maior frequência e menos agressividade argumentando que galhos cortados quando ainda são finos trazem menos riscos à saúde e ao crescimento das árvores. Há finalmente os que podam de qualquer jeito e "sangram" as árvores. Ao tratar da poda mal feita, o biólogo Ricardo Henrique Cardim diz que "a árvore não tem tempo de fechar a ferida antes que aconteça o apodrecimento do galho. Então, entram cupins e fungos, que podem levar a árvore a cair no futuro". Quanto ao plantio, as árvores são sufocadas pelas calçadas, asfalto, concreto, fiações e tubulações subterrâneas. As árvores precisam de espaço aberto ao redor dos seus troncos. Há duas alternativas diante das árvores que crescem: uma cruel, que é sua eliminação sumária; outra integrativa, aproveitando seu crescimento para repensar o tamanho das calçadas e a mobilidade urbana em meio ao verde. Sou absolutamente contrário à primeira alternativa que, aliás, é utilizada em Suzano. Na verdade, a poda mal feita, a poda drástica (na qual se remove mais que 30 % do volume das copas) e o corte sumário são práticas adotadas pelo município de Suzano sem uma nota de esclarecimento sobre uma eventual política de arborização e cuidados com as árvores. Em defesa das árvores, mesmo sem procuração, vale dizer que sua integração à vida da cidade deixa as ruas mais charmosas. Além disso, as árvores prestam serviços ambientais filtrando o ar e retendo partículas de poeira e gases tóxicos, removendo o carbono da atmosfera, além de umedecer o solo e o próprio ar. Elas atuam contra as ilhas de calor, promovem segurança hídrica e previnem enchentes. Elas promovem e abrigam parte da fauna urbana. Finalmente, as árvores bem plantadas em calçadas largas são adequadas para que pedestres e cadeirantes eiem pela cidade. E se as calçadas não forem largas, as árvores são motivos para repensar o tamanho das calçadas e a mobilidade urbana. É preciso, portanto, estabelecer um Plano Municipal de Arborização Urbana que funcione como plano de governo para a gestão das árvores de longo prazo sob a autoridade de um Conselho Municipal. Em seguida, a partir do referido Plano é bom que se se faça um inventário das árvores existentes, contabilizando-as e classificando-as por espécie. Em Paris, com 500 mil árvores plantadas (40% nos cemitérios, jardins púbicos, praças e ruas; e 60% nos parques), existe um banco de dados para o acompanhamento das árvores. São vários os aplicativos móveis, que instalado em tablets, podem ser usados por agentes municipais, como ocorre em Paris. Os agentes públicos tiram fotografias, inserem informações, produzem relatórios e assim atualizam o cadastro de cada árvore em base compartilhada. Então todas as árvores de Paris têm data de plantio, frequência de rega, data de poda. Finalmente, é importante que arborizemos a cidade, sempre e cada vez mais e estabeleçamos uma meta de árvores por habitante. As árvores não são as vilãs. Elas são assassinadas, algumas abruptamente, outras com requintes de crueldade, vítimas de um tratamento cruel composto por calçadas estreitas e podas mal feitas que levam à sua infestação por cupins e fungos, doença e morte, com a promoção ou cumplicidade do poder público.